As ruínas e ladeiras da histórica cidade de Alcântara foram palco de um dos mais belos espetáculos teatrais encenados no Maranhão, simbolizando a Paixão e Morte de Jesus Cristo, na noite desta sexta-feira (19).
A apresentação foi feita pela Companhia de Teatro Culturarte, formada por cerca de 100 atores da cidade de Alcântara, dentre eles, jovens, adolescentes e crianças moradores do povoado Cajueiro, uma área remanescente de quilombolas. A Prefeitura local garantiu apoio estrutural ao evento e a Assembleia Legislativa foi parceira na divulgação da peça teatral, por meio da TV Assembleia.
Mais do que uma simples encenação teatral, o espetáculo reuniu fé, religiosidade, arte e cultura, levando às ruas de pedras da cidade histórica centenas de moradores e alguns visitantes que, atentos e emocionados, acompanhavam cada ato da Via Sacra.
A encenação começou nas ruínas que cercam a Igreja Nossa Senhora do Carmo, a partir do batismo de Jesus Cristo no rio Jordão, seguido da tentação no deserto; a cerimônia do Lava Pés; a Santa Ceia; a pregação no jardim das Oliveiras; a traição de Judas e a prisão.
A Via Sacra prosseguiu com Jesus Cristo levado preso pelos soldados, seguido pela população alcantarense por toda a extensão da Rua Grande. A primeira parada aconteceu na Casa do Divino, onde, do alto da sacada do casarão, foi encenado um dos mais importantes atos da Via Sacra: o julgamento de Jesus por Pôncio Pilatos.
Toda a apresentação da peça durou cerca de uma hora, percorrendo uma extensão de 800 metros. O ato final prossegue com Jesus carregando a cruz sobre os ombros até o Monte Calvário, encenado nas ruínas seculares da Igreja da Matriz, onde aconteceram a crucificação e a ressurreição.
ATORES EMOCIONAM
O profissionalismo dos atores e atrizes da Companhia de Teatro CulturaArte chamou a atenção da atenta plateia que acompanhou todo o espetáculo, gerando comoção. O papel principal de Jesus Cristo foi encenado por Haroldo Júnior, que além de ator e diretor, é vereador da cidade de Alcântara e grande incentivador da cultura local.
“Para nós, da Companhia CulturaArte, foi uma grande honra poder proporcionar à população de Alcântara um espetáculo tão bonito como este, também muito importante para os nossos jovens atores. Cumprimos a missão que nos foi dada e estamos felizes por isso”, afirmou Haroldo.
A professora aposentada Cristina Menezes não conseguiu controlar as lágrimas ao assistir ao ato em que Maria se encontra com o filho Jesus carregando a cruz, sendo açoitado pelos soldados por todo o percurso até o Monte Calvário.
“Foi o momento mais triste e emocionante da Via Sacra porque nos fez sentir o mesmo sofrimento e dor da mãe ao ver o filho sendo açoitado a caminho da sua crucificação”, disse ela.
A atriz Tamylles Campos de Araújo também revelou todo o seu talento ao emocionar o público interpretando a mãe de Jesus. As lágrimas derramadas por Maria, ao se deparar com o sofrimento do filho, foram lágrimas verdadeiras derramadas pela jovem atriz alcantarense. “Interpretar a mãe de Jesus é um sonho concretizado. Maria foi uma mulher forte e guerreira”, revela.
Karina Walleska foi a roteirista da peça e, ao término da apresentação, disse que se sentiu muito feliz com o resultado. “Alcântara, sozinha, é um grande cenário a céu aberto, onde atores amadores fantásticos se doaram de corpo e alma e o resultado foi este grandioso espetáculo. Ver ésta multidão que assistiu se emocionar e aplaudir com entusiasmo é uma grande satisfação para todos nós".
Esta foi a quarta vez que a Companhia de Teatro CulturaArte encenou a Paixão de Cristo de Alcântara, que a cada ano se torna mais aprimorada e com maior número de atores. A comunidade alcantarense também teve tem uma participação especial na montagem do espetáculo, doando materiais para a confecção do figurino dos atores e emprestando utensílios para a composição dos cenários.
Outras peças teatrais também já foram encenadas pela Companhia, dentre elas, a obra “Noite Sobre Alcântara”, de Josué Montelo, tendo sempre como atores os jovens da comunidade e, como cenário, as ruínas, os casarões históricos, os becos e as ladeiras desta cidade majestosa que resiste, com bravura, às intempéries do tempo, preservando as glórias do seu passado e tentando sobreviver às angústias quanto ao seu futuro.
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Diniz