A
Comissão de Assuntos Municipais e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia, em
conjunto com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, realizou, nesta
segunda-feira (17), no auditório Fernando Falcão, audiência pública que
discutiu a questão dos conflitos relacionados à demarcação de áreas indígenas
em vários municípios do Estado do Maranhão. A iniciativa partiu do deputado
Carlinhos Amorim (PDT), que apresentou requerimento propondo o debate.
Os trabalhos foram presididos pelo presidente da Comissão de
Assuntos Municipais e Desenvolvimento Sustentável, deputado André Fufuca (PSD),
e contou com representações constituídas por vereadores, lideranças
comunitárias, trabalhadores e trabalhadoras rurais e prefeitos, vice-prefeitos
e ex-prefeitos dos municípios de Amarante, Fernando Falcão, Zé Doca, Newton
Belo, Centro Novo e São João do Caru e parlamentares federais e estaduais.
Durante seis horas de debates ininterruptos, os participantes da
audiência pública denunciaram e apresentaram encaminhamentos para buscar a
solução para os conflitos que envolvem a demarcação de áreas indígenas em
Amarante, São João do Caru e Fernando Falcão.
“Pedimos a ajuda de todos: do Incra, do Iterma, do Ibama e de
todos os políticos.. Estamos abandonados como filho sem pai. Precisamos do
apoio da governadora para resolver o grave problema criado pela Fundação
Nacional do Índio (Funai) com a demarcação da reserva dos Awa Guajá, em São
João do Caru, determinada pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região. Só
queremos que nossos direitos sejam respeitados”, apelou Arnaldo Lacerda,
representante dos produtores e posseiros do municípios de São João do Caru.
Segundo Arnaldo Lacerda, há mais de 20 anos que o problema foi
criado pela Funai que, com base em um laudo antropológico, decidiu demarcar uma
área com mais de 188 mil hectares para apenas 33 índios, considerando
como posseiros de má-fé mais de 1000 famílias que sobrevivem do trabalho de
roça, da pesca, do extrativismo e da exploração de madeira.“Os índios estão sendo
usados como cobaias por funcionários inescrupolosos da Funai, que agem para
atender interesses de grandes grupos econômicos nacionais e internacionais da
área de mineração. Temos documentos que comprovam nossos legítimos direitos de
posseiros e proprietários”, denunciou.
“Os funcionários da Funai que trabalham na base montada na
entrada da reserva dos Awa Guajá, em São João do Caru, na área de produção
denominada Caju, estão humilhando os trabalhadores e trabalhadores que
trabalham dentro da área. Eles revistam as pessoas e tomam a produção que eles
trazem de suas roças, até caça eles não permitem passar”, relatou o presidente
do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de São João do Caru,
Antonio Dias, conhecido por “Talioca”.
O deputado Carlos Alberto Milhomem, que revelou ter sido
funcionário da Funai por muitos anos, em contundente pronunciamento, disse que
o problema não é da Funai, mas de meia dúzia de antropólogos e membros do
Conselho Indigenista Missionário (CIMI) que fazem toda essa balbúrdia. E citou
como exemplo o problema que envolve o município de Fernando Falcão, no qual a
Funai pretende deslocar famílias que moram há mais de 150 anos num povoado para
ampliar ainda mais a área indígena dos índios canelas.
Para Milhomem, o governo tem que tomar providências urgentes,
caso contrário, no Maranhão, pode acontecer o que recentemente ocorreu no Mato
Grosso, quando houve confronto entre trabalhadores e os índios terenas,
inclusive com morte, o que levou o governo federal a suspender a demarcação da
área. “Quem não chora não mama. Vocês têm que lutar para defender os direitos
de vocês. Temos que nos organizar para ir a Brasília”, defendeu.
O
CASO DE AMARANTE
O presidente da Comissão de Defesa dos Proprietários de
Amarante, Mauro Marinho, relatou o problema de Amarante, que envolve a
demarcação das reservas indígenas araribóia, krikati e canelas,
respectivamente, com áreas de 338 mil, 28 mil e 41 mil hectares, que ocupam 54%
do território daquele município. “Agora a Funai quer ampliar a área em 400%,
demarcando mais de 200 mil hectares, ameaçando desalojar mais de 3 mil famílias
de 75 povoados, convertendo em área indígena 74% do território amarantino”,
revelou.
POSIÇÃO
DOS DEPUTADOS
O deputado federal Weverton Rocha (PDT) fez questão de destacar
que o problema em discussão é suprapartidário e disse ter sido uma grande
vitória a queda da presidente da Funai, Marta Azevedo, demitida na semana
passada. Para ele, a questão da demarcação da área indígena Awa Guajá está
imbricada com a criação da Reserva Biológica do Gurupi. “Precisamos discutir as
funções da Funai porque, hoje, ela julga suas decisões e não garante direito a
defesa. Precisamos de uma CPI para tirar tudo isso a limpo e vamos realizar uma
audiência pública, no Congresso Nacional, para discutir os problemas do
Maranhão”, argumentou.
Por sua vez, o deputado Antonio Pereira (DEM) defendeu
tratamento igualitário para o Maranhão comparado aos outros estados que tiveram
a demarcação das áreas indígenas suspensas e, ainda, uma audiência com a
governadora Roseana e a Procuradoria Geral do Estado. “Esse tema, hoje, está na
agenda do Congresso Nacional. Não acredito numa solução por intermédio do
ministro da Justiça porque vejo que o PT, o partido que governa o Brasil, está
dividido; 70% do PT é a favor da situação atual”, observou.
O deputado Bira do Pindaré (PT) propôs o diálogo com todos os
setores como o meio de solucionar a questão, admitindo que os procedimentos da
Funai devem ser revistos, mas lembrando que o problema já se arrastas desde
1988. “O maior problema do Maranhão, hoje, é a questão fundiária. Só em São
Luís mais de 10 mil pessoas vivem esse problema”, afirmou.
O deputado Hélio Soares (PP) declarou que o problema de Amarante
está vinculado à construção da Hidrelétrica de Estreito e que há interesses
muito grandes ocultos e por trás dessa questão de demarcação de áreas
indígenas. “É muito triste a gente constatar todas essas situações. Temos que
reativar a Frente Parlamentar que criei aqui na Assembleia em defesa dessas
áreas e ir ao ministro da Justiça discutir esses problemas”, defendeu.
Para André Fufuca, os conflitos envolvendo a demarcação de áreas
indígenas é uma causa já abraçada pela Assembleia Legislativa. “Podem contar
com o irrestrito apoio de todos os parlamentares desta Casa. Nós, da Comissão
de Assuntos Municipais, vamos propor outros debates sobre essa questão e vamos
encaminhar todas as propostas aqui aprovadas”, disse.
ENCAMINHAMENTOS
Coube ao deputado Carlinhos Amorim fazer os encaminhamentos da
audiência pública, que foram os seguintes: agendar audiência com a governadora
para que ela tome conhecimento da gravidade do problema e assuma uma posição;
marcar reunião com a Procuradoria Geral do Estado (PGE) para discutir a
legalidade dos laudos antropológicos; ida de uma comissão a Brasília para
discutir o problema no Congresso Nacional e junto ao ministro da Justiça.
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Diniz