A “Operação Fênix” de combate às queimadas e incêndios florestais, na região Leste do Maranhão, tem apresentado bons resultados. “Caxias já não está mais entre os dez municípios do Brasil com a maior quantidade de focos de incêndio. Estamos na classificação de área de alto risco. É o que informa o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais da Amazônia (INPE)”, disse aliviado o Major Hárrison Mouzinho Moraes, comandante do 5º Batalhão de Bombeiros Militar (BBM) de Caxias, na última quinta-feira (20), ao divulgar o relatório com um balanço da “Operação Fênix”, na sede do Corpo de Bombeiros, no Bairro Pirajá.
O trabalho vem sendo realizado pela Guarnição de Combate a Incêndios Florestais (GCIFs), do Corpo de Bombeiro Militar do Leste do Estado, e tem conseguido a diminuição dos focos de incêndio em grande extensão territorial, na zona rural do município de Caxias, a cidade mais afetada até aqui, e municípios circunvizinhos.
Segundo o Major Hárrisson, a “0peração Fênix” conta com um contingente de 85 bombeiros, sendo 18 Bombeiros Civis (BC), 90 atiradores do Exército Brasileiro (EB) e aproximadamente 20 voluntários. Do Comando Tático Aéreo (CTA) são oito e da Polícia Militar quatro. Ao todo são 18 veículos envolvidos, sendo sete do 5º BBM, além de duas aeronaves, um helicóptero e um avião, três caminhões pipas e sete camionetes.
Até aqui, foram atendidos chamados nos povoados Conceição e Serra Vermelha, de Caxias, onde houve uma operação integrada terra-ar de combate ao fogo. Um helicóptero do CTA, utilizando um Bambi Sucket (espécie de caixa d’água) capta água de vários locais e joga nos focos de incêndio. “Nesses últimos três dias, já despejamos mais de 150 mil litros de água nas áreas de queimadas”, revelou o Tenente Coronel Nilson, piloto da aeronave.
“Há também as operações de Defesa Civil, coordenadas pelo Corpo de Bombeiros Militar, que se estendeu para outros municípios da Regional de Caxias, socorrendo às famílias em dezenas de comunidades que sofrem devido à destruição pelo fogo de suas casas, plantações, animais e alimentos”, acrescentou Silvinio Rocha, coordenador da Defesa Civil de Caxias.
Uma equipe de Assistentes Sociais da Defesa Civil de Caxias faz o trabalho de cadastramento das famílias vítimas das queimadas. “Percorremos, na medida do possível, todas as localidades atingidas pelas queimadas para verificar in loco a situação das famílias. E, imediatamente, providenciamos ajuda”, esclareceu Silvinio Rocha.
De acordo com Silvinio Rocha, existem 93 pessoas desalojadas nos dez povoados atingidos com incêndios que ocasionaram queima e perda total de moradias, todas cobertas de palha. São eles: Bom Jardim, Cajazeiras, Cafundó, Canoa, Floresta, Laranjeiras, Podreza, Morrinhos, Terra Dura e Vitória, todos localizados em Caxias. Já os povoados atingidos com perda de plantações, pastos e instalações rurais, são os seguintes: Água Branca, Aliança, Alecrim, Aroeira, Boa Hora, Boca da Mata, Batatal, Capão, Caxirimbu, Criminosa Engenho D’água, Jacurutu, Junco, Lamego, Morros , Mulatas, Nazaré do Bruno, Ouro Velho, São Raimundo, São Pedro e Trabalhosa, todos localizados em Caxias. “Até o momento não se tem a quantificação dos prejuízos relacionados com plantio de roças, hortas e criações de animais em geral”, acrescentou.
“Constatamos um crescimento de 35%, nos últimos meses, no número de ocorrências de incêndios em vegetação nesta região”, revelou o comandante Hárisson Mouzinho, acrescentando que quem provocar queimada pode pegar de 01 um a quatro de prisão, segundo o Código Penal (CP).
Segundo o secretário de Agricultura de Caxias, Manoel Silveira, o prejuízo maior tem sido na área de pecuária, com a queima de pastos e a morte de animais. “A lição que tiramos de toda essa situação é que não estamos preparados para enfrentá-la. Precisamos da ajuda do Governo Federal e Estadual. Temos feito o que está ao nosso alcance”, assinalou.
Segundo o Comandante do 5º Batalhão de Bombeiros Militar de Caxias, as causas das queimadas são de ordem climática, vegetacional, edáfica (relacionada ao solo) e cultural. “Acreditamos que a causa do fogo que originou essa tragédia no povoado Bom Jardim foi a ação humana, ou seja, é resultado da queima de roça que, tradicionalmente, acontece na região, e que é uma prática secular dos nossos agricultores”, argumentou.
Para o agricultor Reginaldo Gomes da Silva, 52 anos, do povoado Bom Jardim, a causa das queimadas é a sequência de invernos fracos na região. “Siô, tá com sete anos que nosso inverno é fraco. A chuva que cai aqui é muito pouca. O que plantamos sente falta de água e não prospera. O arroz não enche o caroço. Este ano, tá com cinco meses que não temos chuva”, explicou.
MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA AS QUEIMADAS
“A conscientização da população tem papel fundamental na luta contra as queimadas”, afirmou o comandante Hárisson Mouzinho ao listar as medidas preventivas contra as queimadas, que são informadas à população por intermédio da mídia em geral e de palestras realizadas em escolas e comunidades da região por integrantes do 5º BBM. São elas:
- Não realizar queimadas durante o dia;
-Não jogar ponta de cigarro na beira das estradas;
-Não deixar velas acesas próximo de vegetações ou materiais combustíveis;
-Não queimar lixo;
-não fazer queimadas sem autorização
-Fazer aceros quando precisar queimar para fazer roças;
“Não sei como vai ser daqui pra frente. Deus haverá de dar um jeito. Precisamos de ajuda para enfrentar essa situação. Nunca tinha visto isso aqui. É muito triste a gente ver tudo se acabando”, declarou com lágrimas nos olhos Dorival Correia Lima, 71 anos, agricultor e morador do povoado Bom Jardim.
José Vitorin Silva, 63 anos, aposentado e o mais antigo morador do povoado Bom Jardim, há mais de 40 anos, afirmou que não sabe como vai continuar vivendo, pois não tem mais como botar roça, pois o fogo destruiu tudo. “Só minha aposentadoria não dar para sustentar minha família. Aqui, as poucas chuvas não têm dado nem para encher o caroço do arroz plantado em Baixão. Essas terras só com mecanização para voltarem a produzir. O fogo acabou com tudo. E isto só com a ajuda do Governo. Só Deus pra nos ajudar!”, argumentou.
Na sede do 5º BBM de Caxias, numa grande barraca montada, encontramos dezenas de voluntários, jovens e adultos, fazendo a triagem dos donativos que chegam de vários locais, inclusive de São Luís e Teresina. São roupas, calçados, água e alimentos em geral, para socorrer as famílias desabrigadas.
“Vim ajudar quem está precisando. Soube dessa tragédia pela televisão. E vim aqui dar a minha colaboração. Faço por prazer. Precisamos nos colocar no lugar do outro”, disse Rosângela Cardoso Araújo, 35 anos, moradora de Caxias, uma das voluntárias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário
Diniz